quinta-feira, 11 de julho de 2019

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Feminicidio

Meu nome é Francileide de Sousa Santos, Vou usar um nome fictício para proteger a minha integridade, mas
deixo bem claro aqui que autorizo a divulgação desse depoimento para longa-metragem ou livro como foi
informado.

Nasce no estado da Paraíba, cheguei em São Paulo no ano de 1998,gravida, pois havia desmarcado um
casamento que certamente daria em fracasso, sem saber da gravidez, com apenas 16 anos de idade, morando na
casa da minha irma, fiquei tentando a vida da melhor maneira possível, os meios que tinha pra sobreviver era
fazendo faxina, e pra de certa forma ajudar, eu sempre fazia faxina pra dona da casa onde morávamos, e
descontava no aluguel, o tempo foi passando minha filha crescendo, mas como toda mulher sonhava com o “amor
verdadeiro”, não tinha tempo de namorar, nem curtir a vida, pois já havia em mim o peso da responsabilidade já
existia em mim, comecei a trabalhar em uma empresa, onde tínhamos somente hora de entrar, mais ficamos
muitas vezes ate depois da meia-noite, as duas da manha, mas no outro dia tinha que ir trabalhar do mesmo jeito,
o tempo foi passando, certo dia eu fiquei muito doente, e fui para o hospital, e conversando com uma senhora que
estava do lado do meu leito, fizemos amizade, fiquei la por 7 dias, e quando fui embora, em um certo dia, resolve
ligar pra ela, pra saber como estava, foi ai que recebe o convite dela para ir almoçar em sua casa, e la conhece o
filho dela, nos eramos evangélicos, ele de uma determinada igreja eu de outra, depois que o conhece, fui pra
igreja dele, que dizia que tinhamos que casar logo, pois nos depois já tinhamos uma vida conjugal antes, e a igreja
não aceitaria se ão cassemos logo, foi ai que em três meses, entre namorar, noivar e casar que decidimos nos
casar, para que fossemos aceitos pela igreja, “ hoje tenho certeza que desde o começo, era um relacionamento
abusivo” mas só hoje vejo isso, antes eu achava que tinha encontrado o príncipe encantado, e que seria o homem
com quem eu queria viver o resto dos meus dias, em novembro de 2002 nos casamos, no próximo ano eu
engravidei, e foi uma alegria pra nós, tudo era um conto de fadas, mas aos 3 meses de gestação, ele me bateu
mais forte pela primeira vez, antes era só puxões de cabelo, uns tapinhas, mas nada que eu considerasse grave,
minha gravidez foi muito complicada, ainda trabalhava na mesma empresa citada acima, e por conta de um peso
que peguei, minha placenta veio descolar do meu útero, e tive sangramentos a gravidez toda, um dia ele chegou
em casa nervoso, e me pediu dinheiro, disse que não tinha, e por conta disso, ele deu 5 tapas em meu rosto, não
pude me defender, pois sabia que se por ventura eu levantasse, perderia meu bebe, e depois disso, só chorei
muito, queria ficar longe dele, mas, por outro lado, eu era da igreja, e isso não era correto, ele pediu desculpas, eu
aceitei e a vida continuo, minha filha nasceu, foram momento muito difíceis, mas o que ele havia prometido, ate
então estava sendo cumprido, ele não me bateu mais, ate minha filha fazer um ano de idade, ele me deu uma
surra, no mesmo dia do aniversario dela, depois da festinha que eu tinha preparado, pois ate ai ele não trabalhava,
eu sustentava minha filha e ele, depois desse dia, eu comecei a apanhar com mais frequência, ele dizia que eu o
traia, e que não era justo com ele, mais eu nunca o trai, o fto da empresa não ter horário de sair, eu me sentia na
obrigação de ficar ate a hora que eles determinava, por que sabia que se eu desensoberbece alguma ordem do
chefe, eles iam me mandar em bora, e como seria a nossa situação, já tínhamos casa, e estávamos bem, quem
nos olhava, jamis dizia uqe aquele homem tinha coragem de me agredir, ele era o homem dos sonhos de toda
mulher, não contava pra ninguém, tinha vergonha, e continuei com ele por mais um tempo, ate que minha filha
cresceu, e eu sai daquela empresa, mas nunca fiquei desempregada, por que mesmo ele trabalhando, eu tinha
que deixar meu cartão do banco nas mãos dele, as coisas começaram a mudar, e no fundo, no fundo eu sabia que
quando a minha filha crescesse que não dependesse mais de mim, eu certamente sairia dali, eu era totalmente
dependente emocionalmente dele, por sempre dizer que se eu deixasse ele nunca mais eu arrumaria alguem
como ele, (hoje eu dou graças a Deus) consegui uma bolsa em uma faculdade, e antes de me matricular, eu
perguntei a ele se podia, foi de comum acordo, por que depois ele disse que nunca achou que eu pudesse passar,
mas passei em 100%, comei a fazer a faculdade, no periodo da manha, saia da faculdade, e ia trabalhar,em uma
empresa de callcenter, e assim foi, priemiro anostudo bem, segundo ele já comesou a implicar comigo, dizia que
eu não fazia nada em casa, que eu era uma irresponsavel,(mas como eu teria tempo de fazer alguma coisa em
casa, se eu saia as 6 da amanha e chegava por volta das 23;45 ?) e se eu não chegasse esse horario, por conta
dos onibus ou por akgum motivo, ele dizia que eu estava com outro homem, e usava palavras como vagabunda,
ou coisas do genero, pra não apanhar muitas vezes eu ira deitar as 2:00 hs da manha, mas 6 horas eu tinha que
acordar e antes de sair, tinha que deixar o café pronto pra ele, nem sempre dava tempo de tomar café, mas tinha
que deixar pronto, depois eu comecei a deixar de fazer, mesmo que eu arrumasse a casa, ele não cuidava e
parecia que fazia de propósito, pra eu arrumar, depois parei de fazer, mas ele me batia, muitas vezes fazia só pra
não apanhar, mas o cansaço era tanto que dormia na faculdade, as vezes nas estações de trem, época de provas
um tormento, ele não deixava eu estudar, mesmo que eu arrumasse a casa, ele procurava alguma coisa pra eu
fazer só pra não estudar, continuei firme na faculdade, um dia ele me pediu pra escolher entre a faculdade e ele,
confesso que ainda fiquei pensando um bom tempo, como ele dizia que eu não teria onde morar, que eu ia pra
debaixo da ponte e coisas assim, eu me submetia muitas coisas, mesmo com toda essa correria, eu não podia
chegar em casa cansada, tinha que limpar a casa e dormir com ele, só assim eu faria o meu papel de mulher de
dona de casa, segundo ele, e as coisas foram me cansando, resolve que tinha que estudar, por tanto, muitas
vezes eu preferia apanhar do que me submeter a muitas cosas, vários dias cheguei cheias de marcas, tanto na
empresa, quanto na faculdade, mas as marcas eram sempre escondidas, eu dizia que tinha caído, que tinha
batido meu rosto na porta do armário, um dia, ele achou que eu estava o traindo, nesse dia ele bateu mais forte,
entre tantos outros dias que apanhei, nesse eu resolve ir embora, denunciei, fiquei sem minha filha, não tinha para
onde ir, e no hospital fique sabendo que tinha que ficar mais dias, por estar muito machucada, mas disse que não

podia ficar, e como estava sozinha, o médico não quis deixar eu sair, mais eu sai mesmo assim, porque eu sabia
que o quartinho que tinha alugado, precisava ser pago, luz, água, e todas as minhas despesas, não tinha moveis,
não tinha nada, mais mesmo assim resolve seguir minha vida adiante, ele proibiu de ver minha filha, fazia
chantagens, as vezes eu sedia, só pra ver minha filha que eu morria de saudades, mas não quis voltar, mesmo
estando longe da minha filha, depois quando ele viu que eu não ia mais ceder a seus caprichos, começou a me
ameaçar, mesmo assim não cedi, continuei minha vida, vendo minha filha as escondidas, sofre muito, só Deus
sabe a quantidade de lágrimas que derramei, como estou derramando agora, tendo que lembar de tudo que
passei, certamente algumas coisas não me vieram a mente, mas oque posso relar agora, eu relato se precisarem
de mais informações ou tenham alguma duvida, por gentileza me questione.
Terminei minha faculdade, hoje sou psicóloga, e trabalho em uma empresa, e também atendo em uma
clínica, coordeno uma empresa, moro com as minhas filhas, ( é tao bom dizer que sou livre, sou feliz, tenho
minhas duas filhas comigo) pra me manter tenho que conciliar alguns compromissos, e ainda dou atendimento
para mais de 100 mulheres (online) todas em situações de violência, fácil a vida nunca foi, mais hoje tenho mais
ânimo, tenho mais saúde, não dependo de ninguém emocionalmente, nem financeiramente, hoje longe dessa
violência que passei, tento mostrar para as pessoas que todo mundo é capaz de sair de uma situação difícil,
mesmo que a fome, a doença, o desespero e tudo mais venham bater em sua porta, você é mais forte que tudo
isso, e pode lutar e conseguir, como eu consegui, sofre por 15 anos, mas tiro de tudo hoje um bom aprendizado,
nas coisas ruins, sempre tem um bom proveito para se tirar....